A integração da Ortodontia e Cirurgia Ortognática na Harmonização do sorriso


A beleza da integração do trabalho da ortodontia com a cirurgia ortognática é admitir em tese que pacientes ortodônticos cirúrgicos devem ser tratados tendo o “perfeito” como objetivo. A cirurgia ortognática não significa a cura da doença, portanto todos os casos tem limitações. Não há perfeição, há equilíbrio (harmonia). Quanto mais complexas forem as alterações na face maior são as limitações.

Os objetivos mais importantes para essa integração devem ser:

- Determinação do equilíbrio da face

- Correção e estabilidade da oclusão

- Normalização das funções

- Melhora estética

As deformidades da face estão ligadas ao excesso ou deficiência no crescimento do esqueleto facial. São causadas por síndromes e anomalias( fatores teratogênicos, embriológicos, microssomia hemifacial, fissuras labiopalatais, craniosinostoses, entre outras); trauma facial; problemas musculares e hormonais ou por herança genética. Estima-se que o problema atinge entre 5% a 10% da população.

O tratamento ortodôntico descompensatório cirúrgico busca corrigir não somente a oclusão, mas especialmente a desarmonia e a desagradabilidade facial. Por este motivo, o diagnóstico deverá priorizar a face, identificando a localização e gravidade do problema, de acordo com o gênero, idade, etnia e, o mais importante, dando ênfase a queixa principal do paciente.

Os fatores que determinam o sucesso da cirurgia são:

- Diagnóstico correto apoiado em morfologia

- Meta terapêutica individualizada

a) Criar discrepância entre os arcos dentários de forma minimalista

b) Posicionar os dentes de maneira adequada nas bases ósseas

c) Não executar movimentos potencialmente instáveis

- Reprodução do plano de tratamento na cirurgia por meio do planejamento digital para obter a visão tridimensional da face.

- Estabilidade

O tratamento ortodôntico almeja uma movimentação ortodôntica com o mínimo de custo biológico tendo como objetivo a estética, funcionalidade oclusal, saúde periodontal e estabilidade pós tratamento. Por esse motivo os critérios para estabilidade dos resultados são:

1- Diagnóstico baseado na preservação da normalidade individual

2- Mecânica isolada de maneira minimalista

3- Contenção de longo prazo

Ao avaliar o impacto psicológico da cirurgia ortognática nos pacientes (Hunt, 2001) verificou melhora na autoconfiança, autoimagem facial e corporal, além de melhor ajuste social dos pacientes após o tratamento. Esses benefícios, que certamente refletem em melhor qualidade de vida, maiores chances de sucesso social, afetivo e profissional, compensam e justificam a cirurgia.

Segundo Reis (2016) quando nos deparamos com o tratamento em adultos, tais objetivos são cerceados pelas limitações odontológicas impostas pelo tempo sem, contudo, desviá-las do intento principal. No tratamento em adultos os fatores limitantes exigem apenas adequações individualizadas no planejamento. Estudos que avaliam os benefícios da ortodontia integrada com a cirurgia são unânimes em afirmar que a melhora estética, refletida no incremento da autoimagem, auto estima e qualidade de vida é o maior benefício percebido pelos paciente.

O apelo e o rigor estético dos pacientes estão cada vez maiores. Segundo Cabral, F. et al (2017) para alcançar resultados satisfatórios frente a uma limitação biológica é preciso criar alternativas que consigam a melhor solução clínica para casos complexos e o diagnóstico / planejamento é a etapa mais importante e imprescindível de um tratamento.

O sucesso da cirurgia está diretamente relacionado à capacidade do cirurgião em reproduzir, o que foi determinado previamente, a partir de um diagnóstico correto e plano de tratamento apropriado. Os avanços nos exames de imagem 3D na última década permitiram um aumento da precisão no diagnóstico e na execução do planejamento cirúrgico.

O planejamento virtual deve ser usado como ferramenta nos casos orto-cirúrgicos; facilita a comunicação entre cirurgião e ortodontista, e desses com o paciente; possibilita confecção de guias cirúrgicos interoclusais mais precisos e de forma rápida e simples; além de permitir uma avaliação mais satisfatória dos resultados pós- operatórios.

O tratamento ortodôntico cirúrgico ganha ênfase quando indivíduos apresentam deformidades significativas faciais ou dento alveolares onde somente o tratamento ortodôntico não atingiria resultados satisfatórios. A época mais oportuna para o tratamento ortodôntico cirúrgico é após o final do crescimento puberal. A ideia de aguardar o fim do crescimento é potencializar a estabilidade no pós tratamento .

O tratamento ortodôntico descompensatório pré cirúrgico busca eliminar as compensações dentárias. Introduzidas pela natureza para melhorar a relação entre os dentes e suas respectivas bases ósseas, especialmente na região anterior, camuflam o erro esquelético. Isso requer um planejamento cuidadoso para movimentação dos incisivos superiores e inferiores inclinando-os em sentido contrário, expondo o erro esquelético. Essa fase ortodôntica inicial pré cirúrgica tem o objetivo de permitir uma correção compatível com o erro facial, possibilitando melhores resultados estéticos e funcionais.

A grande responsabilidade da descompensação ortodôntica encontra-se justamente nas discrepâncias sagitais, Padrão II e III nas quais a ortodontia descompensatória é condição impreencindível para equalizar o erro facial e dentário. Para isso é importante que o plano de tratamento seja feito junto com o cirurgião bucomaxilofacial para definir a magnitude da descompensação necessária para o caso.

Existe uma tendência na ortodontia de valorizar a morfologia e a agradabilidade facial no diagnóstico. A perspectiva atual da prática e da pesquisa odontológica exige que o profissional se aproxime das expectativas do seu paciente ao definir a melhora da estética facial e do sorriso como o principal objetivo do tratamento, e a avaliação direta da face do paciente como seu principal recurso diagnóstico. A análise morfológica da face é o principal recurso diagnóstico para determinação do Padrão facial que, por sua vez, remete a protocolos de tratamento e prognósticos específicos em diferentes faixas etárias.

Se todos os elementos de diagnóstico empregados na elaboração do planejamento do tratamento são corretamente analisados, desde que as características individuais de cada caso sejam criteriosamente avaliadas e ponderadas é certo o sucesso no resultado final do tratamento.



Dr. Luciano Burrini

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